sexta-feira, 3 de outubro de 2014

A Selic em 2015 pode chegar a 14%

O que nenhum dos candidatos à Presidência da República tem coragem de falar abertamente é que a taxa de juros básica da economia, Selic, poderá ser elevada para 14% ao ano ainda em 2015. Ou mais. Há dois fatores que corroboram para essa possibilidade. Em primeiro lugar, a inflação oficial (IPCA) está perto do limite do teto da meta de 6,5%. Segundo, como consequência da primeira, há uma pressão política originada principalmente do sistema financeiro para maior independência do Banco Central na condução da política monetária.



Sendo assim, o candidato que ganhar as eleições para Presidente provavelmente usará o chamado capital político para tomar as famosas “medidas impopulares”. Ou seja, usar os instrumentos de política monetária para diminuir o volume de moeda em circulação. Os 11,41% esperados pelo mercado, de acordo com o relatório Focus do Banco Central de 26 de setembro de 2014, certamente serão insuficientes para conter a expansão do consumo das famílias via tomada de empréstimo. Assim, a dose do remédio talvez seja mais amarga do que se anuncia. Contudo, há alguns componentes da inflação brasileira que têm pouco a ver com o consumo das famílias.

Em primeiro lugar, destaquem-se os chamados preços administrados pelo governo. Por exemplo, os combustíveis têm os preços represados, o que está comprometendo a saúde econômica e financeira da Petrobrás. O governo certamente aumentará gasolina e diesel ainda este ano, ao fim do processo eleitoral. Situação semelhante às tarifas de energia elétrica, que estão defasadas em função da crise hídrica que tem baixado o nível das represas das geradoras de energia hidrelétrica e obrigado o governo a gerar energia termelétrica, que é mais cara. Provavelmente, a energia elétrica também aumentará após as eleições.

Agora, alguns preços administrados fogem ao controle do governo. É o caso dos reajustes automáticos estabelecidos em contratos, como aluguéis e salários. Estes acabam por deflagrar os antigos componentes de inflação inercial que são característicos da economia brasileira. Juntamente com energia elétrica, aluguéis compõem os custos indiretos de produção. E os salários compõem os custos diretos. Logo, a correção monetária desses fatores de produção torna-se um estopim prestes a ser aceso pelos empresários para corrigir seus preços e, portanto, perpetuar a inflação. Só que esse problema nenhum candidato ou economista costuma tratar com a seriedade que merece.

Em segundo lugar, preços de alimentos estão pressionados pelas adversidades climáticas dos últimos anos. Sob este ponto de vista, aumentar os juros para deter a inflação dos alimentos não somente é inócuo, como pode ser “gasolina para apagar incêndio”. Juros mais altos encarecem o crédito ao produtor, que tende a repassá-lo ao produto final. Ou, quando não pode repassar, opta por não tomar crédito, diminuindo a oferta e, igualmente, fazendo com que os preços dos alimentos aumentem. Tanto uma como outra situação podem igualmente aumentar a inflação de alimentos.

Em terceiro lugar, a inflação dos serviços também tem aumentado. Da mesma forma, o aumento de juros para o controle dos preços dos serviços também se mostra ineficiente. Assim como os preços na indústria, parte da inflação dos serviços está no aumento automático dos preços dos aluguéis, que tende a ser repassado pelo empresário.

Logo, o aumento da taxa de juros para controlar a inflação acaba sendo um instrumento limitado. Juros mais altos são efetivos na contenção da tomada de crédito para aquisição de bens de consumo, em especial os duráveis, como automóveis e eletro-eletrônicos. Isto é, combate a inflação pela média, já que os índices de preços se referem a uma média de aumento de preços.

Contudo, aumentar a Selic não será eficiente para conter as verdadeiras origens da peculiar inflação brasileira. Isso já aconteceu em um passado não muito distante. Em 1999, a Selic média foi de 26,79%, mas a inflação ultrapassou o teto da meta: 8,94%. O mesmo aconteceu em 2001 (17,63% de juros médios; 7,67% de inflação), 2002 (19,60% de juros médios; 12,53% de inflação), 2003 (23,08% de juros médios; 9,30% de inflação) e 2004 (16,44% de juros médios; 7,60% de inflação).



Portanto, não se vislumbra no horizonte das políticas macroeconômicas instrumentos para combater as verdadeiras causas da peculiar inflação brasileira. Dentre as principais, está a baixa taxa de investimento, que gera uma oferta agregada de bens e serviços aquém da demanda agregada, o que, pela lei da oferta e demanda, tende a uma elevação dos preços. E para elevar a taxa de investimento, é urgente uma ampla e profunda reforma tributária para desonerar a produção e ampliar o número de empresas produtoras de bens e prestadoras de serviços – ou seja, aumentar a concorrência para diminuir os preços. Ademais, ampliar as condições de infraestrutura, especialmente transporte e energia elétrica, para baratear custos de produção e despesas, de forma a minimizar os impactos ao setor produtivo.


Essas deveriam ser as verdadeiras preocupações de presidenciáveis, economistas, empresários e da população brasileira em geral. O que infelizmente não tem sido objeto de discussão. Assim, a condução da política macroeconômica deverá ser mais do mesmo.