Eu gostaria de fazer comemorações efusivas neste Dia dos Professores, agradecer aos meus alunos e ex-alunos pelas mensagens carinhosas e tal.
Mas resolvi fazer algo um pouco diferente e não muito alentador: refletir brevemente sobre a Educação no Brasil.
Começo com a frase do antropólogo Darcy Ribeiro: "a crise da Educação no Brasil não é uma crise, é um projeto".
Alguém aí duvida que temos uma crise na Educação? "Escola sem Partido", cortes de verbas, salários reais dos professores em queda ao passo em que a jornada de trabalho aumenta, salas de aula cada vez mais lotadas, desumanização do ensino, um Ministro da Educação que não faz a mais vaga ideia do que seja Educação...
O mais chocante é que Darcy Ribeiro enunciou a frase acima em 1979! Sim, queridos e queridas! Este ano completam-se 40 anos do talvez mais bem sucedido projeto brasileiro: manter na linha da ignorância metade da população adulta que concluiu apenas o Ensino Fundamental!
Manter a população na linha da ignorância faz parte de um projeto político que beneficia partidos da direita e da esquerda. Conhecimento é libertação! E a falta de conhecimento mantém a população indefinidamente presa.
Presa aos currais eleitorais, ao poder dos senhores feudais, os mesmos que estão no poder em seus feudos há gerações, à dependência de políticas assistencialistas para assegurar-lhes a sobrevivência e aos subempregos que remuneram com salários indignos.
Sabe-se há décadas que o desenvolvimento socioeconômico está diretamente correlacionado ao nível de instrução da população e que não é possível alcançar o desenvolvimento sem investimentos massivos em Educação. Sabe-se há tempos que Ciência e Tecnologia de ponta incorporados à produção e operadas por pessoas altamente instruídas é o que assegura a produção de bens e prestação de serviços em escala nacional e mundial, de forma a atenuar as crises cíclicas e enfrentar a concorrência internacional.
A Educação é um típico bem comum: toda a sociedade se beneficia do acesso universal a ela! Os ganhos mútuos de uma sociedade bem instruída - quantitativa e qualitativamente - são inequívocos.
Então, pergunto: por que os brasileiros não EXIGEM Educação de qualidade a TODA POPULAÇÃO?
A resposta a essa pergunta é tão incômoda quanto a pergunta. Fato é que as pessoas entendem a Educação como um elemento de competição pessoal, ao invés de um valor social.
Por isso é que tacham os professores de doutrinadores comunistas, em especial os da rede pública. Assim, conseguem manter a maior parcela da população pobre indefinidamente subeducada, mal instruída, enquanto a classe média luta para pagar por escolas particulares cada vez mais caras e a exigir cada vez mais descontos desses pagamentos nos respectivos impostos de renda, já que o Estado não é capaz de oferecer escolas públicas de qualidade. Ah, sem se esquecer de passar os filhos em universidades públicas, que - aparente paradoxo - têm excelente qualidade!
Assim, o ciclo se perpetua. A segregação educacional reproduz as demais segregações da nossa sociedade. E qualquer um que enuncie que devemos lutar por igualdade de oportunidades - a começar pela Educação - logo recebe o "selo comunista" pelas mesmas pessoas que costumam reclamar da falta de Educação do povo brasileiro.