Muitas pessoas gostam de justificar as ações violentas e indiscriminadas por parte das forças policiais como "fatalidade decorrente da guerra civil que estamos vivendo".
E usam as estatísticas dos mais de 60 mil assassinatos por ano para atestar essa suposta "guerra civil".
Pois bem. Vejamos alguns números do Atlas da Violência para entender o problema.
Dos mais de 63.895 assassinatos no ano-base 2017, ano da pesquisa, ocorre o seguinte:
→ 56% são jovens de 15 a 29 anos.
→ 92% são homens.
→ 78% são negros.
Ou seja, quem está sendo assassinado são homens jovens negros das periferias, que estão sendo executados pelas guerras entre facções criminosas e pelas milícias ou pela própria polícia.
Um homem branco, com mais de 30 anos, que more em algum bairro de classe média de qualquer grande centro urbano, é tão provável que morra de câncer de próstata, quanto seja provável de ser assassinado por bandidos em latrocínio.
Uma mulher branca que more em algum bairro de classe média de qualquer grande centro urbano tem dez vezes mais chances de ser assassinada pelo namorado/noivo/marido do que ser vítima de latrocínio.
Portanto, a tal "guerra civil" não existe, é mito. O que existe mesmo é um processo de extermínio, focado em um perfil da população brasileira bem específico e delimitado.
O mesmo perfil que prevalece no sistema carcerário. O mesmíssimo perfil que corresponde à população pobre de periferias e favelas, sem acesso aos serviços públicos prestados pelo Estado: Educação, saúde, infraestrutura, etc.
O único "serviço público" que o Estado oferece a esse perfil da população é a repressão policial. A mesma que resulta em tragédias como a de Paraisópolis. A mesma que matou a menina Ághata Félix. A mesma que resultou no desaparecimento do pedreiro Amarildo Souza.
Não são fatalidades decorrentes de uma falsa guerra civil. São efeitos colaterais de um processo deliberado de extermínio.