O ano era 1974. Felipe
tinha 2 anos apenas.
Avó de Felipe Santa Cruz com a foto do filho assassinado na ditadura militar, Fernando Santa Cruz. Fonte: O Documento, acesso em agosto de 2019. |
O pai, Fernando, fora
levado pelos agentes de Estado, aqueles supostamente encarregados de fazer
cumprir a lei.
Felipe nunca mais teve o
pai nas festas de aniversário, no Dia dos Pais, no Natal, no Ano Novo...
Parte da alegria de
Felipe foi-lhe amputada ainda na infância. Felipe assistia à dor dos avós sem
jamais poder imaginar quão dolorosa era.
A dor de não saber o
destino do filho. Ainda que a suposição fosse óbvia, não ter um corpo para
velar, sobre o qual chorar e ver sepultar, era dilacerante demais. Era uma dor
diuturna, incessante e incessável.
O ano é 2019. O agente
máximo do Estado, aquela figura que representa a instância mais elevada do
poder, ironiza a dor da alegria amputada de Felipe e tripudia sobre a agonia
dos pais que nunca mais tiveram a presença do filho, tampouco um corpo sobre o
qual chorar.
45 anos depois, o agente
máximo de Estado intencional e repulsivamente faz reviver os piores momentos da
família de Felipe.
Tal figura deveria ser aquela
de maior compaixão e empatia, dados os ensinamentos cristãos que diz seguir.
Todavia, é a personificação absoluta do desprezo pelos sentimentos e
sofrimentos humanos.
A figura não hesita em
mentir descaradamente para potencializar sofrimentos ainda maiores a Felipe e
aos avós de Felipe que nunca puderam sepultar o filho.
A figura não tem
sentimentos, é óbvio. É um sociopata. Uma personalidade sombria. Mau caráter.
Ser desumano que é capaz de usar de sarcasmo na perda de um ente querido por
uma família que teve parte da alegria amputada.