O mandado de condução coercitiva imposta ao
ex-presidente Lula na última sexta-feira, dia 04, acirrou os ânimos de petistas
e antipetistas. Entre os extremismos é necessário resgatar a ponderação pelo
mínimo de discernimento e racionalidade na política, algo cada vez mais difícil
nesta nova era de extremos.
Lula deixando a Polícia Federal em Congonhas.
Ex-presidente teve imposto um mandado de condução coercitiva para depor. Foto: GloboNews, 2016. |
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Em princípio, é importante separar o suposto
envolvimento do ex-presidente nos esquemas de corrupção dos acertos na condução
das políticas sociais. Bem como separar o correto direcionamento destas
políticas dos graves erros do respectivo financiamento público que originaram a
contabilidade criativa e as pedaladas fiscais, estas objeto do pedido de
impeachment da Presidente Dilma. Ou seja, separar o legado das políticas
públicas da pessoa física que supostamente cometeu crimes contra o
patrimônio público.
O risco que corre o PT e os petistas na defesa
ingênua e irracional do ex-presidente Lula, face a tantos indícios de corrupção
é justamente comprometer o que chamam de legado. Porque ainda não se
aperceberam de que grande parte da suposta "elite golpista" que tanto
criticam quer exatamente isso: associar as corretas políticas de inclusão à
corrupção inerente ao sistema político sujo que acompanha a própria história do
Brasil. Nesse cenário, defender cegamente o ex-presidente é fazer exatamente o
jogo dos detratores das políticas sociais. O que pode, por indução, colocar em
xeque tais políticas.
Se a população, em algum momento, engolir a ideia
de que algumas bandeiras da chamada esquerda, como o programa Bolsa Família,
estão, sob qualquer hipótese, diretamente associadas à corrupção, então o
Brasil estará fadado a dar gigantescos passos atrás rumo à involução
socioeconômica.
As políticas sociais são tão importantes para o
país quanto o Plano Real, que acabou com a hiperinflação e trouxe estabilidade
à economia. E, ressalte-se bem, o Plano Real foi o primeiro grande passo a
permitir a inclusão social, ao dar poder de compra às famílias de baixa renda.
Assim como o Plano Real não pode ser considerado um
patrimônio do PSDB, as políticas sociais não são patrimônio do PT. Ambos são
conquistas do povo brasileiro. Embora seja inegável a importância dos
personagens que os possibilitaram, como FHC e Lula, estes não estão acima das
conquistas que ajudaram a proporcionar. E muito menos da lei.
Portanto, a melhor coisa que os defensores de tais
políticas deveriam fazer é, ao invés de tentar blindar o ex-presidente, blindar
as conquistas em si. E, para fazê-lo, é importante assegurar o funcionamento
das instituições democráticas livre de influências políticas com "p"
minúsculo. As mesmas instituições democráticas que agora estão investigando
Lula e seus supostos crimes.
Os petistas não deveriam acusar o juiz Sérgio Moro
de estar a serviço dos interesses escusos golpistas da direita. Porque, ainda
que estivesse, seria impossível fabricar tantas evidências de envolvimento nos
escândalos que ora estão sendo apurados, não somente por Lula, mas pela cúpula
do PT.
A esquerda em geral e em particular o PT deveriam
diversamente cobrar das autoridades que houvesse um Sérgio Moro investigando
com o mesmo rigor os escândalos da CPTM e da merenda escolar no estado de São
Paulo. Exigir que as investigações do Ministério Público em todo o país sejam
desvinculadas de interesses dos governadores e prefeitos. Que o Judiciário não
seja indicado ou contra indicado pelo Poder Executivo.
Jogar contra o Ministério Público e contra o
Judiciário significa jogar contra as instituições democráticas. O que, em
última análise, representa jogar contra o próprio país. As investigações
precisam ser concluídas e os culpados têm de ser punidos, independentemente do
cargo que ocuparam e do partido ao qual estão filiados.
Caso contrário seria admitir a impunidade. E,
consequentemente, admitir que alguns brasileiros devam gozar de mais prestígios
do que outros. Exatamente o oposto do que preconizam as próprias bandeiras da
esquerda que secularmente combatem as desigualdades.