Para ter a ilusória sensação de vivermos em uma
democracia representativa, o povo brasileiro tem se sujeitado nas últimas três
décadas a uma crescente indústria eleitoral.
Os números das eleições 2012 não deixam dúvidas: além
dos R$597 milhões correspondentes ao orçamento do Tribunal Superior Eleitoral
(TSE), os gastos com as campanhas às prefeituras e às câmaras de vereadores dos
5.567 municípios brasileiros podem ultrapassar R$1,2 bilhão, em uma estimativa bastante
conservadora. É uma soma absurda para contratar cabos eleitorais e pagar por
placas, cartazes, cavaletes, folhetos, santinhos e afins. Material que, ao
final da campanha, vai literalmente para o lixo – ou seja, dinheiro jogado
fora. Ou será que não?
Na verdade, não. Usando a linguagem financeira, os
investidores nas campanhas fazem uma conta simples: retorno sobre o
investimento. Pessimismo à parte, questões ideológicas e altruísmo não são
colocados nessa conta, por razões óbvias. Se um investidor X apostou R$100 em uma
campanha, ele calculou que é possível recuperar os R$100 acrescidos de outros
R$100, R$200 ou muito mais. Aí está o primeiro problema: como o investidor X
irá recuperar o montante investido em uma campanha eleitoral?
Foto: http://www.pimenta.blog.br/wp-content/uploads/negociata.jpg.
Se um investidor X apostou R$100 em uma campanha, ele calculou que é possível recuperar os R$100 acrescidos de outros R$100, R$200 ou muito mais.
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Fato é que o candidato eleito será cobrado em algum
momento por seus investidores. É neste ponto que os projetos apresentados ao
eleitor no decorrer da campanha se afastam da realidade, tornando-se promessas
vazias. A tendência é que os programas de governo sejam executados levando em conta
os interesses dos investidores, não os dos cidadãos. Assim, entre uma obra de
interesse público e outra de interesse dos investidores de campanha, o político
se empenhará para realizar a segunda. E usará todos os argumentos para tentar
justificar o injustificável. Eis a origem de chafarizes, estátuas, praças e
outras obras inúteis que são executadas por políticos, à revelia da vontade da
população.
À esquerda: estátuas na entrada do portal da cidade de Americana, SP.
Fonte: http://static.epocasaopaulo.s3.amazonaws.com/wp-content/blogs.dir/9/files/2011/07/americana-2.jpg.
À direita: monumento no trecho sul do Rodoanel, SP.
Os programas de governo são executados levando em conta os interesses dos investidores, não os dos cidadãos. Eis a origem de chafarizes, estátuas, praças e outras obras inúteis.
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O segundo problema são as famigeradas coligações
partidárias. Estas não são mais formadas em torno de projetos políticos, muito
menos em torno de ideologias, mas sim, atendendo a interesses econômicos. A
raiz da negociação econômica escusa das coligações partidárias está
paradoxalmente em duas nobres funções do poder Legislativo: (1) constituir leis
de interesse público e (2) fiscalizar as ações do poder Executivo.
À esquerda: aliança PSDB e PFL nas eleições presidenciais de 1994. Fonte: http://mauriciogrille.files.wordpress.com/2011/03/fhc-acm-mm-jb-carlos-vieira-cb.jpg. À direita: aliança entre o PT e o PP nas eleições municipais de 2012. Fonte: http://www.valor.com.br/sites/default/files/images/lula_maluf.jpg.
As coligações partidárias não são mais formadas em torno de projetos políticos, muito menos em torno de ideologias, mas sim, atendendo a interesses econômicos.
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Como o Brasil tem um sistema de governo
presidencialista e uma Constituição Federal parlamentarista, a governabilidade
torna-se inviável. A menos que o poder Executivo ofereça “algo” aos
parlamentos. Suscita-se aí o loteamento do poder público: secretarias dos
Estados e dos municípios, ministérios, empresas estatais, autarquias... Tudo
serve para acomodar a base aliada, em troca de apoio nas votações de leis de
interesse do poder Executivo, que, por sua vez, atende aos interesses dos
investidores de campanha.
Senadores, deputados federais, estaduais e distritais e
vereadores apoderam-se dessas pastas tais como células cancerosas, acometendo o
Estado de uma doença incurável. Inclusive porque os parlamentares têm de
acomodar os correligionários que tanto se empenharam em elegê-los. Como
filhotes de porcos famintos, os apadrinhados políticos dos parlamentares
eleitos passam a sugar as tetas do governo, frequentemente além do limite da
sustentabilidade financeira do setor público. E, é lógico, sem qualquer
compromisso com a eficiência administrativa, com a Ética, com a meritocracia e
muito menos com o interesse coletivo.
Ilustração: http://www.robsonpiresxerife.com/blog/wp-content/uploads/2011/07/tetas-do-governo.jpg.
Os parlamentares têm de acomodar os apadrinhados políticos, que, como filhotes de porcos famintos, passam a sugar as tetas do governo além do limite da sustentabilidade financeira do setor público.
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E a população? Bem. Esta é apenas coadjuvante em toda essa
trama. Dela somente se lembram de dois em dois anos, quando a indústria
eleitoral tem de fabricar novos produtos. Lamentável que o povo não se aperceba
de que tem nas mãos uma arma simples para acabar com tudo isso: o voto. Em uma
espécie de torpor, o eleitor aceita qualquer discurso vazio em favor da
“Educação, Saúde, Transporte e Emprego”. Enquanto se alternam no poder situação
e oposição, uma apregoando o “rumo certo”, outra bradando por “mudanças”. Ainda
que nada mude. Ainda que o rumo continue sendo sempre o mesmo, independente de
quem esteja no poder.
Marcha contra a corrupção em Brasília, DF: 13/10/2011. Fonte: http://hotsites.globoradio.globo.com/arquivos/2011/32/9793.jpg.
O povo? É apenas coadjuvante em toda a trama. Dele somente se lembram de dois em dois anos, quando a indústria eleitoral tem de fabricar novos produtos.
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