Londres, 2012: basquete - EUA - medalha de ouro Fonte: http://www.hsrn.com/wp-content/uploads/USA-Men-Gold-Medal.jpg |
O basquete dos Estados Unidos é sem dúvida o melhor do mundo. O futebol
brasileiro não é mais o mesmo desde a década de 1980, apesar do ufanismo característico
de locutores tupiniquins.
Dentre os esportes coletivos, talvez o basquete seja o mais
individualista de todos. E os Estados Unidos, apesar de ser o país mais
individualista do mundo, têm um sistema de premiação que reconhece os melhores jogadores
não pela atuação individual, mas sim pela contribuição para a coletividade.
Diferentemente do futebol, em que o melhor jogador é o “artilheiro” que faz
mais gols, o “jogador mais valioso” (MVP) da associação de basquete dos EUA, a
NBA, raramente é o “cestinha”. Geralmente é aquele que apresenta o melhor
desempenho em um conjunto de atributos, não apenas a mera pontuação, ainda que
o número de pontos seja o critério para a vitória.
Mais do que isso, um jogador pode ser ovacionado pelos fãs de basquete por ser muito bom em apenas um quesito que não seja a pontuação. Dennis Rodman era um jogador que arremessava mal, passava errado, mas ficou famoso por ser um grande pegador de rebotes, que é quando a bola é arremessada, mas não entra na cesta. Earvin Johnson foi um jogador que ganhou o apelido de “Mágico” em função de suas inacreditáveis assistências, aquele passe perfeito que resulta em cesta. John Stockton, com apenas 1,85m – baixo para os padrões do basquete – ganhou destaque por ter a maior média de roubada de bola da história da NBA, um importante atributo da defesa.
Dennis Rodman Fonte: http://www.nba.com/media/act_dennis_rodman.jpg |
Earvin "Magic" Johnson Fonte: http://c-product.images.dreamsretail.com/77-12/77-12846-F.jpg |
John Stockton Fonte: http://www.nba.com/media/act_john_stockton.jpg |
Aliás, apesar de o basquete ser um jogo em que o vencedor é quem detém
maior pontuação, ser um bom defensor é um dos atributos mais valorizados no
modelo norte-americano. O bom ataque acaba sendo uma consequência natural de
uma defesa coletivamente bem organizada. O excelente preparo físico é essencial
para que sejam jogados os quatro quartos no mesmo nível de boa defesa. E os
jogadores da NBA, apesar de receberem salários milionários, treinam
exaustivamente, tanto para ter um impecável preparo físico, como para ter
arremessos certeiros no ataque.
No futebol brasileiro, são inúmeros os maus exemplos de craques “fora de
forma”, que fazem questão de não treinar ou frequentar bares e festas regadas a
bebida alcoólica. É estranho que os dirigentes tendem a ser coniventes com esse
comportamento pouco profissional, acreditando que é melhor ter um craque obeso,
destreinado ou alcoolizado de que a torcida goste, do que jogadores formados
nas divisões de base que são empenhados, mas pouco conhecidos.
Paradoxalmente, os “donos da bola” costumam cobrar profissionalismo dos
jogadores novos que têm um domínio de bola fora do comum, proibindo-os de
driblar excessivamente, exigindo que participem da defesa e que toquem
rapidamente a bola, sem “firulas”. Acabam, assim, anulando-lhes a vantagem
competitiva e facilitando a vida do time adversário. Não obstante, continuam
reconhecendo e premiando apenas “artilheiros”, enquanto os jogadores das demais
posições ficam no status de
coadjuvante.
Curiosamente, muitas organizações reproduzem essa característica do
futebol brasileiro. Costumam premiar os funcionários “artilheiros” que são, em
geral, grandes vendedores e articuladores. Esquecem-se de que cada profissional
tem um perfil peculiar à função que exerce. Quem está “na defesa”, como na área
financeira, é tão importante quanto quem está no ataque. Quem “dá a assistência”
para o gol, por exemplo, quem está na linha de produção, deveria ter mérito de
artilheiro, embora muitas vezes sequer seja reconhecido. A equipe de pós-venda
que “pega o rebote” é essencial para a empresa, mas pouco destaque costuma receber.
Quem “dá a assistência” para o gol, por exemplo, quem está na linha de produção, deveria ter mérito de artilheiro, embora muitas vezes sequer seja reconhecido. Fonte: http://www.fideli.com.br/images/unidadeTambau01.jpg |
Como no futebol brasileiro, o técnico que traça os rumos estratégicos da
empresa infelizmente costuma ser descartável e substituído quando há uma
sequência ruim de resultados. Embora os “dirigentes” não se apercebam de que o
mau desempenho é consequência da falta de planejamento e uma subsequente
execução desordenada. Assim, setores pouco prestigiados ocupam-se da “gestão de
incêndios”, enquanto o prêmio pelo eventual sucesso é atribuído aos pseudo-craques
que muitas vezes sequer são bons profissionais.