Composição política e contundente traça paralelos entre os crimes do regime militar e as ameaças recentes à democracia brasileira
A ser lançado no dia 07 de agosto, o single “Sem Anistia”, do cantor e compositor Fabrício Pessato, faz uma intervenção direta no debate público brasileiro ao transformar em música o clamor por justiça, memória e responsabilização. A canção se insere na tradição das obras de protesto ao abordar os crimes da ditadura civil-militar (1964–1985), mas vai além: estabelece uma ligação explícita com os ataques contemporâneos à democracia, sobretudo no contexto bolsonarista.
Com versos fortes e diretos, Fabrício Pessato relembra os porões da repressão, denunciando torturas, desaparecimentos forçados e a violência institucionalizada. Referências explícitas como “cadeira do dragão” e “pau-de-arara” evocam práticas brutais utilizadas por órgãos de segurança do regime. O refrão — título da música repetido com força “SEM ANISTIA!” — , remete à recusa de se repetir o erro do passado, quando a histórica Lei da Anistia de 1979 protegeu agentes da repressão de qualquer responsabilização judicial. À época, os familiares de mortos e desaparecidos políticos tiveram de amargar a impunidade garantida pela malfadada lei aos perpetradores de crimes praticados em nome do Estado.
Mas a crítica não se limita ao passado. Ao mencionar o “falso Messias” que tentou dar um novo golpe de Estado e evocar o temor de um “novo AI-5”, Fabrício Pessato estabelece uma ponte entre o passado autoritário e os recentes flertes com o autoritarismo, especialmente no contexto do bolsonarismo, cujo representante máximo proferiu inúmeros discursos e tomou efetivas iniciativas que ameaçaram as bases do Estado Democrático de Direito. E que agora pleiteia uma anistia similar à que ocorreu em 1979. O verso “Em 2026, nós vamos nos redimir!” antecipa uma resposta histórica a esses ataques, convocando a sociedade a não repetir erros do passado, não aceitando novamente a impunidade, fazendo valer os artigos 359-L e 359-M do Código Penal, os quais classificam respectivamente como crimes: “tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado Democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos poderes constitucionais” e “tentar depor, por meio de violência ou grave ameaça, o governo legitimamente constituído”.
A música também revisita slogans e símbolos da repressão, como o infame “Ame-o ou deixe-o”, confrontando-os com resistência e ironia. Em sua parte final, o artista não deixa margem para dúvida: “Temos ódio e nojo à ditadura” — uma referência direta à icônica frase de Ulysses Guimarães, ao promulgar a Constituição de 1988.
Com produção crua e incisiva, “Sem Anistia” se apresenta não apenas como um grito de indignação, mas também como um ato de memória e engajamento político, num momento em que o país revisita os limites da democracia e a necessidade de punição aos responsáveis por ataques às instituições.
O single estará disponível nas principais plataformas digitais.